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O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) é um capítulo da história intelectual e institucional da geração modernista, um passo decisivo da intervenção governamental no campo da cultura e o lance acertado de um regime autoritário empenhado em construir uma "identidade nacional" iluminista no trópico dependente.
Sérgio Miceli. SPHAN: refrigério da cultura oficial. In: Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 357-68 (com adaptações).Tendo como referências iniciais as informações e o tema do texto anteriormente apresentado, julgue o item subsecutivo.
A peça Mandu-Çarará, de Heitor Villa-Lobos, foi composta no âmbito do SPHAN e é um exemplo da união entre antropologia sobre populações indígenas e políticas públicas de patrimônio.
Os estudos de Pierre Bourdieu sobre estratificação social não contemplam questões de patrimônio cultural, o que o torna datado para se pensar questões de hierarquia na seleção dos bens patrimoniáveis no Brasil.
O principal motivo que levou os criadores do SPHAN a declararem o tombamento de templos religiosos nas cidades de Mariana, Ouro Preto, São João Del-Rei e Tiradentes foi a importância das festas religiosas de cunho popular tradicionalmente realizadas nessas cidades, além do fato de o Brasil ser um país majoritariamente católico.
O anteprojeto elaborado por Mário de Andrade para o SPHAN foi totalmente incorporado ao projeto final, em razão de seu viés etnográfico, o que garantiu o desdobramento dos ideais da Geração Modernista de 1922 na política patrimonial nacional.
O autor do texto em apreço se refere à fase heroica do SPHAN, na qual se fez uma opção clara pelos monumentos de pedra e cal - escolha coadunada com a composição social e profissional dos agentes de patrimônio, em sua maioria, arquitetos e membros da elite.
Julgue o item seguinte, referente à relação entre cultura, ambiente e sociedade nos estudos antropológicos.
O sistema agrícola do Alto Rio Negro utiliza-se de conhecimento tradicional para a geração de uma enorme variedade de mandiocas.
O papel do antropólogo no registro de bens culturais está limitado aos aspectos culturais, uma vez que o registro de fatores relacionados ao meio ambiente é de responsabilidade técnica de biólogos, geógrafos e geólogos.
Alguns antropólogos contemporâneos questionam a suposta universalidade da oposição entre natureza e cultura, que é um dos fundamentos do pensamento antropológico clássico.
O que constitui a nação é a transmissão, entre as gerações, de uma herança coletiva inalienável. A criação das identidades nacionais consistirá em inventariar esse patrimônio comum, isto é, de fato, em inventá-lo.
Anne-Marie Thiesse. Ficções criadoras: as identidades nacionais. Anos 90, v. 9, n.º 15, nov./2008. Internet: <www.seer.ufrgs.br> (com adaptações).
Tendo o fragmento de texto precedente como referência inicial, julgue o item subsequente.
O contato de povos ameríndios com agentes do Estado propicia a descoberta de uma etnicidade já estabelecida e que é sistematizada e protegida pelos indigenistas.
Preocupado com a descaracterização das tradições culturais brasileiras, Aloísio Magalhães propôs novas políticas patrimoniais que subsidiassem a indústria nacional na confecção de produtos adequados à realidade do país, ação que ficou conhecida como guinada antropológica na política de patrimônio.
A identidade do sertanejo, caracterizada por uma cultura específica e distinta da degenerada pelo cosmopolitismo, foi projetada, em grandes obras regionalistas da literatura brasileira - por exemplo, Os Sertões, de Euclides da Cunha - como uma possível identidade nacional em formação.
A dificuldade de se estabelecer um patrimônio coeso e representativo no Brasil deve-se ao fato de este ser um país jovem, formado no bojo da globalização econômica, e que recebeu grandes fluxos migratórios, o que inviabilizou a estabilização de um povo dotado de tradições.
No que diz respeito à noção de patrimônio cultural, julgue o item a seguir.
A patrimonialização limitada a edificações do período colonial representava uma dominação de certa elite sobre a política de memória do país, o que foi superado a partir da criação da categoria de patrimônio imaterial, que representou uma efetiva democratização social e territorial da política patrimonial no Brasil.
A despeito da sua importância socioeconômica e cultural e da sua tradição, o conjunto de saberes e modos de fazer associados à produção de queijo da Serra da Canastra ainda não foi acolhido e classificado pelo IPHAN como patrimônio imaterial digno de registro.
Os mais de vinte povos que habitam as terras ao longo do rio Negro possuem saberes específicos sobre o modo de plantar, pescar e aproveitar os recursos da floresta sem prejudicar demasiadamente o ecossistema em cada uma das regiões do Rio. As trocas desses conhecimentos entre esses povos fazem parte do seu sistema agrícola. A política de Estado adotada procurou preservar todo esse sistema de produção de alimentos, mas também de conhecimento a respeito dos alimentos e das práticas necessárias para cultivar, pescar ou extrair da floresta os recursos necessários para a manutenção dos povos do rio Negro. Por isso, o conjunto de saberes e modos de fazer típicos desse sistema foi classificado como patrimônio imaterial digno de registro pelo IPHAN.
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